sábado, 27 de junho de 2015

O Brasil como protagonista mundial: Seus parceiros e suas perspectivas (1/3)

Marcos Belmonte
O Brasil passa por um momento histórico nunca visto antes, pois está se tornando um protagonista na política e economia mundial de maneira decisiva, envolvido com blocos e parceiros que estão propondo – ou revitalizando - um novo modelo de governança, ao mesmo tempo em que atua com os velhos blocos e potências que levaram o mundo para mais uma crise. Mas o Brasil tem e faz parte de um projeto que busca renovação. Mas dificuldades existem para a realização de intento. Como agir?
É sabido de todos que o acrônimo BRICS começou como um fórum econômico e que no novo século adquiriu importância política, passando a ser um bloco político econômico potente e institucionalizado com a homologação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e dos fundos de emergência, que demonstra bom potencial para “contrabalancear” as instituições do Atlântico Norte, como o FMI. Não há nenhuma atitude revolucionária – nos termos comumente conhecidos – mas sim, basicamente reformista, apesar de que, se fazermos uma comparação entre o domínio do Norte (colonizadores) sobre o Sul (colonizados) possa até ter uma pitada “revolucionária”, mas é muito mais aparência do que de fato uma realidade. Porém não podemos negar em nenhum momento sua importância no cenário econômico mundial, no presente e no futuro. Para o Brasil, o bloco tem significativa importância.

"O bloco BRICS é uma realidade. É um grupo de países que perseguem objetivos comuns. O Brasil certamente tem interesse em apoiar os BRICS e fazer avançar a cooperação com todos os seus membros, construir alicerces mais fortes com base nas semelhanças e convergências, estimular a troca de informações e desenvolver consultas e cooperação em áreas específicas (...) Os BRICS são muito importantes para a política externa e para a sociedade brasileira, para os formuladores, para os operadores e para os que pensam a política externa"[1].    
Atentemos aos números do comércio do Brasil com os BRICS, individual e coletivamente:
Os números demonstrados na tabela acima são contundentes[5] e mostram o sucesso das relações comerciais [6] brasileiras com os outros BRICS. Poucas vezes tivemos uma balança negativa nesses primeiros 15 anos de negociações no século XXI. Com a Rússia temos somente um momento de balança negativa; com a China tivemos três momentos; a Índia representa nossa maior balança negativa distribuída em 10 momentos; diferentemente acontece com a África do Sul, onde sempre tivemos balança positiva. Os volumes dessas negociações são também bastante relevantes. Óbvio que nosso relacionamento intra-BRICS teve grande poder devido à China, epicentro magnético do bloco e motor da economia mundial. Todavia nossas negociações comerciais precisariam ser diversificadas.

"(...) [há] crescente demanda chinesa e indiana por commodities agrícolas e minerais. Ao mesmo tempo em que é fundamental utilizar o acesso ao mercado brasileiro como moeda de troca nas negociações, a maior dependência da pauta exportadora primária pode aumentar a vulnerabilidade eterna estrutural da economia brasileira, especialmente em um provável momento de queda de preços agrícolas, sujeitos à volatilidade das bolsas financeiras mundiais. O que reduz esse risco é a permanência da demanda dos BRICS por alimentos, especialmente a da China, mas não se pode deixar de observar que esse é um atenuante completamente alheio ao controle da soberania brasileira" [7].  

Doravante, mesmo com esse “problema econômico estrutural” dentro do fluxo comercial intra-BRICS, os números são relevantes. Com a China tivemos um menor volume de exportação, de 1.085.301.597 [8] e a importação de 1.222.098.317 nos anos 2000, tendo um total corrente de 2.307.399.914. Já o maior volume de exportação foi um total de 46.026.153.046 e importações de 37.303.567.344, no ano de 2013, fazendo um total corrente de 83.329.720.390. Com a Rússia tivemos um menor volume de exportação, de 422.966.725, e a importação de 570.695179 nos anos de 2000, tendo um total corrente de 993.661.904. Já o maior volume de exportação foi de 4.652.978.889 e importações de 3.332.050.061, nos anos de 2008, fazendo um total corrente de 7.985.028.950. Com a África do Sul tivemos um menor volume de exportação de 302.226.889 nos anos 2000, e a importação foi de 181.667.025 em 2002, tendo um menor volume corrente de 529.989.458 em 2000. Já o maior volume de exportação foi de 1.836.354.221, em 2013, e importações de 911.920.031, em 2011.

No ano de 2012 temos o maior total corrente, de 2.614.045.186. Com a Índia tivemos um menor volume de exportação de 217.450.483 e a importação foi de 271.355.071, nos anos 2000, fazendo um menor total corrente de 488.805.554. Já o maior volume de exportação foi de 5.576.930.397 em 2012 e importações de 6.357.566.624 no ano de 2013. O maior total corrente foi de 11.424.577.573 em 2014.  Se observarmos os números com todo o bloco BRICS, tivemos um menor volume de exportação de 2.027.945.694 e a importação de 2.291.911.136 nos anos 2000. Já o maior volume de exportação foi de 53.966.725.105, em 2013, e a maior importação foi de 47.727.423.677, em 2014. O maior total corrente foi de 101.023.780.761 em 2013. Se atentarmos para a média de volume corrente dentro do século XXI, temos um total de 45.654.779.888 e uma soma total corrente de 684.821.698.293. Todavia, o bom nível dos totais correntes do Brasil com os BRICS é potencialmente devido à balança comercial sino-brasileira.

Gráfico (1[9]) com os volumes totais correntes comerciais anuais

Ainda sim, mesmo com esses números, rata-se de um grupo que precisa explorar melhor as possibilidades de investimentos diretos e relações comerciais com o Brasil. Por exemplo, o BRICS ainda tem números inferiores aos da UE, com a qual temos dentro do XXI uma média do total corrente de 62.609.098.593 e soma total corrente de 939.136.478.897; com o NAFTA temos uma média de 52.314.354.716 e total corrente de 784.715.320.737.  Da mesma maneira, o Brasil precisa intensificar suas relações comerciais com os MERCOSUL, que teve média total de 27.401.996.263 e um total corrente de 411.029.943.938. Algumas dificuldades de desenvolvimento de média e alta tecnologia, bem como potencial de manufatura podem estar travando essa integração comercial estratégica para o Brasil e o bloco do Mercado Comum do Sul. Contudo, os acordos bilaterais com os países dos BRICS e outros maiores desenvolvedores de alta tecnologia podem começar a dar ao Brasil esse potencial.

Gráfico (2) com os volumes totais correntes comerciais anuais

Como podemos notar no gráfico, o MERCOSUL é o parceiro com menor total corrente comercial desde 2000. Contudo, vemos que os BRICS foram o bloco no qual nossas negociações comerciais mais cresceram, inclusive nos imediatos anos depois da crise. Todos tiveram queda nos anos de 2008-2009, o start da pior crise econômica desde 1929. NAFTA e UE no início do século XXI eram os maiores parceiros, mas em 2014 os BRICS tomam a ponta nas negociações tendo o maior total corrente, com a UE como segundo maior parceiro comercial e o NAFTA – que teve maior queda no início da crise - em terceiro lugar, com o dobro do total corrente do MERCOSUL. 

Notas: 
[1] AMARAL, Sérgio. O Brasil, os BRICS e a agenda internacional. In: Mesa-Redonda: O Brasil, os BRICS e a agenda internacional / Apresentação do embaixador José Vicente de Sá Pimentel. – Brasília: FUNAG, 2012, p. 301.
[2] Cobertura refere-se à quantia total de exportações dividida pelas importações. Caso seja positivo (≥1), a balança também assim o é, e vice-versa.
[3] Dados da balança comercial brasileira com os países dos BRICS recolhidos no site do ministério do desenvolvimento. 
[4] A África do Sul entrou para os BRICS em 2010.
[5] Entendemos que são números significativos que demonstram evolução nas relações entre os BRICS (fluxo intra-BRICS) apesar de não serem todos os maiores parceiros brasileiros e com certos membros haver uma balança comercial realmente pequena ainda, como com a África do Sul.
[6] O grifo é para apontar que estamos tratando diretamente das relações comerciais e não falamos em outras formas de investimento financeiros, industriais etc. como os do IDE (investimento externo direto). 
[7] POCHMANN, Márcio. Relações comerciais e de investimentos do Brasil com os demais países dos BRICS. In: Mesa-Redonda: O Brasil, os BRICS e a agenda internacional / Apresentação do embaixador José Vicente de Sá Pimentel. – Brasília: FUNAG, 2012, p. 147.
[8] Todos os números indicando o valor das negociações são em dólares.

[9] Apesar de a África do Sul ter entrado de fato para o bloco em 2010, decidimos por apontar seus totais correntes anuais com o Brasil para termos ideia da trajetória comercial dentro do XXI. A título de fluxo intra-BRICS, devemos considerar só a partir de seu ingresso no grupo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário