sexta-feira, 12 de junho de 2015

6 problemas do jornalismo brasileiro

Davenir Viganon
“No Capitalismo, o jornalismo é atravessado pela ideologia burguesa como uma fruta é passada por uma espada (...) de modo flagrante, evidente e doloroso. Nem por isso fruta será sinônimo de espada.” - Adelmo Genro Filho.
Historicamente, o jornalismo é uma forma de conhecimento que surgiu condicionado pelo capitalismo. Contudo está muito além de ser mero meio de manipulação, pois possui possibilidades emancipadoras desde que não seja confundido com o capitalismo. O controle político-econômico dos meios de comunicação pela classe dominante foi, e ainda é, bem sucedido no Brasil e o jornalismo muito suscetível a sua ideologia. Elencamos aqui seis barreiras que o jornalismo brasileiro enfrenta que o impedem de explorar tais possibilidades.

1 – A seriedade do “Padrão Globo de jornalismo”
A austeridade na divulgação de notícias, os semblantes sisudos e as vozes doutorais dos apresentadores dos telejornais são características bastante conhecidas do modo de fazer jornal no Brasil. Elas se consolidaram durante a ditadura, tendo na voz e postura dos âncoras e no texto jornalístico em geral, assemelhado às notas oficiais da versão dos militares. A seriedade durante aquele período buscava, em primeiro lugar, representar credibilidade de especialistas técnicos, “doutores”, vergados em ternos rijos e voz firme e aveludada. Contudo, durante a ditadura, a firmeza no semblante era principalmente um meio de transpor a autoridade dos militares para a bancada. Trata-se de um jornalismo feito para ser assimilado, e não questionado. Passadas mais de duas décadas do fim da ditadura, este modelo se mantém como o padrão. A fim de confirmar a tese, basta lembrar como os casos de descontração nos ambientes austeros das bancadas são tratados como notícia, visto que fogem à regra. 
 

2 – Personalismo
Em outro tipo de telejornal, busca-se opor a rigidez consolidada pela Rede Globo. Encabeçado por José Luiz Datena, seu jornalismo personalista dispensa a bancada e a rigidez e busca centralizar a autoridade e a credibilidade de toda a equipe de um programa em sua figura. Os espaços que algumas bancadas dedicam aos comentaristas acabaram por se tornar programas isolados. Com vida própria, os conceitos jornalísticos defendidos pela grande imprensa são contraditoriamente subvertidos nas ações e defendidos na fala, reforçada pela sua presença de palco, que é a grande atração do programa.

3 – Glamourização de certos profissionais
Presente nos programas de televisão em geral, desloca o jornalismo como forma de conhecimento para uma forma de entretenimento. Um exemplo é a relação conjugal dos âncoras do JN, William Bonner e Fátima Bernardes, ter ganhado sutilmente mais atenção que as notícias (vídeo abaixo), ou ainda, a relação bizarra entre o formalismo do mesmo Bonner com a descontração da nova “moça do tempo”, Maria Júlia Coutinho. Quando jornalistas ganham status de artistas, a notícia tende a se tornar um mero objeto de entretenimento.

4 – Mito da objetividade jornalística
Sob o mesmo objeto cabem vários olhares, seja ele jornalista, mendigo ou advogado. Contudo, o jornalismo no Brasil ainda reproduz a ideia de que apenas munido de uma técnica jornalística é possível apreender um acontecimento sem nenhuma mediação, ou ainda, que basta buscar o mais próximo de uma experiência imediata para fazer uma notícia. Porém independente da técnica adquirida, o imediato nunca é de fato sem mediações, pois sempre haverá mediação na apreensão da realidade. Mesmo a apreensão direta, através dos sentidos, implica as experiências, a ideologia, o mundo histórico e os conhecimentos anteriormente adquiridos. 

5 – Mito da imparcialidade/neutralidade jornalística
A qualidade mais proclamada que o jornalista deve possuir é de ser imparcial, ou mesmo quando se admite não ser possível sê-lo, deve chegar o mais próximo disso. Max Weber já dizia que o neutro é aquele que escolheu o lado mais forte. No jornalismo isso implica em reconhecer que todas as etapas da construção da notícia estão cercadas de escolhas e tomadas de posição, voluntárias ou não. Nosso mundo está impregnado de ideologia e o mito da neutralidade jornalística é uma das formas de reproduzir e aceitar a ideologia liberal conservadora na sociedade não apenas como a escolha correta entre outras possibilidades, mas como uma forma universal. Nesse sentido, ao entender a técnica jornalística como neutra desconsidera-se todo o processo histórico de criação do jornalismo como o conhecemos.

6 – Concentração privada de concessões públicas
A maior parte das notícias consumidas hoje ainda é veiculada pela TV aberta e pelo Rádio. Elas só podem ser operadas através de concessões públicas fornecidas a entes privados, que criaram verdadeiros latifúndios midiáticos. Essas empresas desde o início da regulamentação das concessões sempre contaram com uma legislação muito aberta à concentração da propriedade de mídia, que se encontra sob a forma de intrincadas modalidades de propriedade ilegais. Os resultados são poucas famílias exercendo o controle empresarial (e obviamente editorial) da grande maioria das emissoras de rádio e TV do País.

Nenhum comentário:

Postar um comentário