segunda-feira, 11 de maio de 2015

O bebê real e o suspiro de jornalismo áulico

Davenir Viganon
A chegada do segundo filho do Príncipe William e da Princesa Kate ganhou destaque na imprensa brasileira. Os jornais eletrônicos e impressos brasileiros não se furtaram de lançar vários textos e notas televisivas repletas de afeto sobre o nascimento da menina. No intuito de retornar às origens, os grandes veículos jornalísticos do Brasil noticiaram como se fazia no período de transição da colônia para o império, quando se lançou o primeiro jornal impresso de nossa história.
Mesmo separado por quilômetros de oceanos, os grandes veículos jornalísticos brasileiros nos brindaram com um bombardeio de notícias sobre o nascimento do bebê real, o segundo filho do Príncipe William e da Princesa Kate, os futuros herdeiros da coroa britânica. Mesmo antes de a menina chegar ao mundo, o alarde já era iminente, e após o nascimento ser noticiado, o público foi informado diversas vezes por todos os grandes jornais.

O Estado de São Paulo chegou a publicar absurdos oito textos contemplando apenas o nascimento. Não muito atrás, foi possível encontrar sete ocorrências em O Globo, enquanto a Folha de São Paulo, o Portal G1 e o Zero Hora somaram quatro registros cada. O Portal da BBC Brasil (que tem o seu original na própria Inglaterra) noticiou apenas três vezes, no dia 2. Também foi notável a ternura emitida por alguns âncoras durante a programação televisiva, uma vez que se pretendia demonstrar a existência de parentesco com a recém nascida ora com os telespectadores, ora com os apresentadores.

O tratamento dos jornais brasileiros para com assunto em tela seguiu o exemplo dos antigos opúsculos – verdadeiros textos de puro elogio – publicados na Gazeta do Rio de Janeiro, dirigidos por membros da monarquia colonial no Brasil, quando já haviam chegado às terras brasileiras desde 1808. Neste suspiro de imprensa áulica, o moderno veículo informativo remete ao tempo em que os súditos deviam naturalmente adorar os seus monarcas. E apesar de não idolatrarmos mais o poder absolutista, o fetichismo voltado ao luxo e à riqueza é necessariamente cultuado.

Nas páginas virtuais de ego.com, temos diariamente (des)informativos sobre os famosos, os quais avisam onde “fulana irá tomar sol e mostrará corpão em Copacabana”. Esta é apenas uma das escancaradas faces de adoração ao consumo no capitalismo. Reis e suas cortes são desnecessárias para fazer-nos prostrar e desejar ardentemente sermos iguais a eles, apenas indicam outro modo de fazê-lo. Ainda assim, o jornalismo lacaio insiste em cumprir a missão do dia.

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