Dhiego Recoba
Ser eleito fazendo piada com o piso dos professores parece que insuflou a vocação humorística do senhor Sartori. Em reunião com os representantes de quarenta e seis entidades de classe do funcionalismo público do RS, uma nova anedota feita pelo governador gerou desconforto, a ponto de os representantes do funcionalismo gaúcho especularem sobre a possibilidade de uma greve geral. E quem pagará pelo senso de humor indevido é a sociedade.
No intuito de tentar convencer a sociedade e o funcionalismo público estadual, mais uma vez José Ivo Sartori (PMDB) e o núcleo de seu secretariado reuniram-se com os representantes de quarenta e seis entidades de servidores no dia 27 último, a fim de expor os dados acerca da crise financeira vivida pela administração pública do Rio Grande do Sul.
Segundo informações de Flávia Bemfica, expostas no jornal Correio do Povo do dia 28 de abril, a velha cantilena de Sartori produziu o consenso de irritar a todos, o que levou os integrantes a saírem do encontro “falando abertamente na possibilidade de greve geral”.
De acordo com o vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, Cláudio Augustin, o discurso do governador não expôs nenhuma novidade, além de reforçar o tom terrorista que a atual gestão tem oferecido à sociedade. A presidente do Cpers, Helenir Oliveira, referiu-se ao fato de o governo não apresentar soluções para os problemas, e ainda questionou a pauta sobre as isenções fiscais (um benefício para o setor privado e um amargo remédio para a sociedade, que vê suas receitas sucateadas historicamente, prejudicando o atendimento de suas demandas). “Solicitamos que o governador utilize seu peso político para pressionar pela tramitação da lei de distribuição dos royalties do petróleo. Mas vemos uma discussão rasteira, que passa para a sociedade informações que não correspondem”, enfatizou.
Já o presidente do Sindicado dos Agentes da Polícia Civil do RS (Ugeirm), Issac Ortiz foi além: “O governador contou umas piadinhas sem graça e foi embora. As coisas estão acontecendo e o governador faz piada. A apresentação foi terrível, e essa questão do déficit a gente já conhece. Se não houver avanço, vamos paralisar”. Segundo consta do encontro, a piada a que se referiu o presidente da Ugeirm/Sindicato falava sobre a história de um navio que afundou e tinha como sobrevivente apenas um italiano, pelo simples fato de que, por falarem muito com as mãos, ajudaram o náufrago a nadar.
Para quem esteve atento ao processo eleitoral, não é de se espantar a forma como o governador enxerga as questões do Estado. Caracterizada pela anticampanha povoada pela ausência total de ideias, o auge do ex-prefeito de Caxias ocorreu quando sugeriu que os professores buscassem o piso salarial em uma conhecida rede de materiais de construção do RS. Ainda assim, foi eleito no segundo turno com a ampla maioria dos votos, em relação ao adversário Tarso Genro (PT).
Cabe destacar a seriedade com que os representantes do funcionalismo público gaúcho têm demonstrado em debater os problemas financeiros do RS. Para elucidar melhor, podemos adotar o espírito criativo do senhor Sartori e fazer uma analogia futebolística: os trabalhadores estão empenhados em bater uma bola redonda, mas o camisa 10 do time não corresponde, pois é um jogador muito ruim, indigno de ocupar tal posição.
O problema que se apresenta é que o técnico deste time, o eleitorado gaúcho, teimou em colocar o “querido do grupo” onde ele não sabe jogar. O preço a ser pago, e que parece cada vez mais evidente, é o de uma greve geral do funcionalismo público em virtude da nulidade que tem sido a atual gestão, pois não pensa em alternativas e só repete a mesma velha jogada. Palmas aos 3.859.611 técnicos/eleitores que preferiram o “nada” em detrimento do “alguma coisa”, ao confundirem miss simpatia com um chefe de estado. Com cento e vinte dias de governo, a sociedade gaúcha já confirmou o que José Ivo revelou durante a campanha em 2014: é o gringo que faz... piada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário