segunda-feira, 18 de maio de 2015

Adeus, ovelha negra! - COLUNA CAVANDO BURACOS

Daniel BaptistaCOLUNA CAVANDO BURACOS
A rádio Ipanema FM 94.9 encerra as atividades hoje, dia 18 de maio de 2015. A rádio passará a operar apenas pela internet, e no lugar do seu dial, a rádio Bandeirantes (que também ocupa a faixa AM 640) irá transmitir a sua programação. Pelo lado técnico é compreensível a mudança. Em 2008, a rádio Gaúcha passou a operar na plataforma em FM, simultaneamente com a frequência AM. Em 2011, a Rádio Grenal da rede Pampa de comunicação passou a operar também em FM, isso fez com que a rádio Band AM 640 perdesse boa parte de seu público esportivo, já que as programações da Gaúcha e da rádio Grenal se dirigem, fundamentalmente, ao futebol. Contudo, ainda é apenas especulação, considerando o cenário atual, até porque Renato Martins, diretor de jornalismo da Bandeirantes no Rio Grande do Sul, afirmou que se trata de uma decisão estratégica para ampliar os investimentos na rádio Bandeirantes.
 
O fato é que a Ipanema ocupa um importante espaço na memória coletiva. Há mais de trinta anos, a rádio era conhecida por ser o “lado b”, ou o “lado n” como foi o seu slogan por algum tempo, ou mesmo a ovelha negra das rádios FM’s. Todas essas definições já apresentavam a cara da rádio. Boa parte do cenário musical gaúcho e bandas que não faziam parte do mainstream pop passavam pela programação, principalmente na década de 1990. Foi na Ipanema, por exemplo, que eu conheci e comecei a ouvir rap – nacional e internacional – no programa Projeto rap Porto Alegre, enquanto os meus amigos ouviam SPC e Katinguelê. O Mundo Metal exibia bandas que iam do trash ao progressive metal, a programação da rádio ia de Chico Buarque a Krisiun na maior naturalidade, e ainda tinha um excelente programa de jazz e blues e também havia o Programa Gay dirigido ao público GLBT.

Não me espanta nem um pouco a comoção causada pelo anúncio de seu fim entre os gaúchos, e em especial os porto-alegrenses, pois ela acompanhou o cenário underground gaúcho - apesar de nos últimos anos apresentar uma descaracterização – e foi marcante para a cena cultural gaúcha. A rádio deixará saudades, a plataforma FM irá ficar mais artificial e sem graça, uma vez que estará inflada de músicas comerciais, vazias e com a finalidade estritamente mercadológica. O business absorveu e engoliu o underground, que segue sufocado e sem espaço graças aos padrões modernos. Está sendo assim a vida... Não interessa a cultura, os espaços, a diversidade, a memória... Adeus Ipanema!

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