Marcos Belmonte
Os blocos regionais podem gerar ótimos dividendos para os envolvidos, como também ser onerosos e por vezes perniciosos se não fore, tratados com o devido estudo e cuidado estratégico. Há muitos exemplos: A infraestrutura da União Europeia é invejável, mas o euro – apesar de ainda estar com a cotação maior que o dólar – tende ao declínio pela desigualdade dentro das próprias economias do bloco; o fluxo de exportação e importação deu um salto qualitativo na constituição da Área de Livre Comércio da América do Norte, mas essa integração fez das economias dos parceiros dos EUA quase parasitária do centro crítico além dos problemas de excessiva cedência de poder decisório dentro de seus territórios em virtude da segurança central. Agora: os países que orbitam a China, dentro da OCX e Ásia num geral, estão a mercê de destinos semelhantes? E com o MERCOSUL? E a ALADI? Afinal de contas, se o bloco se estrutura tendo como centro gravitacional o Brasil, há esse risco? Há benefícios?
São números que realmente precisam melhorar, pois a média corrente é de 3.875.828.537 e o total corrente comercial com toda a América Sulista é de somente 682.145.822.565. Só nosso total corrente com os Estados Unidos, mesmo antes de acabar o ano de 2014 já havia ultrapassado esse montante em cerca de vinte bilhões. São doze países é só possuímos esse total. A Argentina é disparada o parceiro com maior fluxo comercial e a grande responsável para essa média não ser ainda mais diminuta. Nossos piores fluxos comerciais são de fato com as Guianas – especialmente a Francesa – Suriname e com o Equador; os maiores são com a Argentina, Chile e Venezuela[1].
Mas esses números não seriam o suficiente para desenvolvermos novos parceiros com maior potencial de fluxo e que consumissem nosso atual maior potencial comercial: o mercado de commodities, ou seja, as grandes potências industriais? O MERCOSUL não é um mercado sem grandes perspectivas e está recebendo mais atenção do que devido? Talvez deveríamos fazer outra pergunta: Se o MERCOSUL é um mercado tão sem perspectivas, porque a superpotência estaria tão interessado nele? Pode não parecer imediatamente óbvio, mas o Brasil deve investir, e muito, no Mercado Comum do Sul, pois, os olhos do mundo se voltam para sua potencialidade, não só de consumo e fornecimento de setor primário poderoso, pois, países como o Brasil possuem potencial hídrico possante e agora a provável maior reserva de petróleo do mundo, o pré-sal, assim como Venezuela com seu petróleo, a Argentina com forte mercado primário e ponto estratégico para o polo sul (...). Ou seja, é preciso visão dos governantes para desenvolver o MERCOSUL e a América Latina de um modo geral. Mercado Comum do Sul – e a AL de forma geral - precisa ser reforçado, mas é preciso também que seus membros – e o próprio bloco – estruturem condições com outros blocos e países com intuito simbiótico, onde, precisamos desenvolver tecnologia e nosso setor secundário -, assim como a China de Deng com os EUA, pois, não podemos ser só consumidores de economia primarizada -, e essa troca pode ser feita em condições a nos favorecer – visando desenvolvimento infraestrutural -, pois, também, temos poder de barganha – mercado e commodities -. Pensem no potencial de investimentos brasileiros como Pasadena e o Porto De Mariel, agora que a China – nossa parceira – vai abrir o canal na Nicarágua, com bem mais potencial que o do Panamá, e com uma concessão de um século! Os RICS estão desenvolvendo parcerias com a América Latina; o Japão também está; a parceria com a União Europeia se desenvolve e etc. Essa intencionalidade objetiva desenvolvimento da região[2] e isso é preocupante para a superpotência.
"A cooperação com a UE e a Ásia, por seu turno, tem sido duramente atacada pelos Estados Unidos. Tal situação pode ser inferida do discurso do presidente Clinton ao Senado, no início de 1997, quando foi pedir a aprovação do Fast Track: “Precisamos agir, expandir as exportações para a América Latina e a Ásia, as duas regiões que crescem rapidamente, ou ficaremos para trás à medida que essas economias fortalecem seus laços com outros países”. Ou seja, integração com os EUA significa tornar-se importadores de produtos norte-americanos. Em depoimento a uma subcomissão do Senado, a Secretária de Comércio Charlene Barchefsky declarou que “o interesse que desperta o Mercosul, não só na América do Sul e no Caribe, mas também na Europa, no Japão e na China, é (por nós) percebido como uma ameaça aos interesses comerciais e à própria liderança dos Estados Unidos no hemisfério”[3].
De fato esse desenvolvimento estrutural está acontecendo de maneira lenta, isso porque todos os países foram afetados pela grande crise de 2008-2009. Os investimentos externos foram rigorosamente diminuídos devido aos efeitos perniciosos dessa recessão. Mas esse processo parece recuperar fôlego, e vemos isso mais nitidamente após a VI Cúpula dos BRICS em Fortaleza-Brasília, onde, propostas para novos rumos da economia mundial foram aventadas e projetos foram estruturados. Os BRICS também fizeram um tour pela América Latina assinando acordos bilaterais com o bloco – e individualmente -, além de outros países da OCDE. A recuperação é lenta, mas contínua. Apresenta avanços e recuos – no âmbito comercial, superávit e déficit -, mas, como notaremos no gráfico, recuos bem menos agudos, como quando no start da crise.
Os números mostram que a preocupação dos Estados Unidos com relação aos destinos comerciais do Mercado Comum do Sul demonstram-se realidades 17 anos depois das declarações no governo Clinton. Sobre o gráfico, decidimos não colocar nos números os negócios comerciais do MERCOSUL com os blocos e regiões apontados no mesmo, já que o PIB brasileiro é responsável por mais de 60% do PIB da América do Sul e é, portanto – nesse aspecto -, a liderança que praticamente puxa o leme dos destinos do subcontinente. A Ásia, como nosso maior parceiro comercial, tem uma média anual dentro do século XXI de fluxo nas balanças comerciais de 72.671.342.755 e um total corrente de 1.090.070.141.326; com a UE, como já vimos, a média é de 62.609.098.593 e com total de 939.136.478.897; Com a América Latina temos média de 53.847.315.611 e total de 807.709.734.167; EUA aparecem com média de 42.091.585.338 e total de 631.373.780.074; África tem média de 16.827.309.289 e total de 252.409.639.342; por último tem o Oriente Médio, com uma média de 10.678.714.861 e um total de 160.180.722.912. O continente africano tem baixo fluxo comercial com o mercado brasileiro, assim como a América Latina[4], mas são consideradas áreas absolutamente estratégicas – AL sendo vizinhos de fronteira e África como a outra margem do atlântico sul “pré-sal e etc” -, pois, se agora há baixo fluxo comercial, é justamente nessas regiões que nosso comércio tem plena potencialidade de crescimento, tendo a África, especial potencial para consumir nossos produtos do mercado secundário. Outros índices podem demonstrar os fluxos comerciais brasileiros – déficit e superávit - com os parceiros no gráfico acima
Percebemos que nossas relações com os blocos e regiões de caráter profundamente estratégico – e mais perto de nossas fronteiras – necessitam de maior atenção e estruturação de relações – como as comerciais – mais intensas, para que, num médio prazo, a integração e cooperação sejam profícuas para ambos os envolvidos visando a formação de uma aliança forte contra as dificuldades provocadas pelos sucessivos momentos de crise internacional. Vizinhos que se apoiam uns nos outros – não de forma parasitária, mas simbiótica – sempre buscam caminhos para o mantimento da paz em suas fronteiras e é essa uma grande parte do plano. Projetos de benefícios comuns precisam ser constituídos – não nos moldes da Rota da Seda do XXI – dentro de nossas atuais realidades – limitadas momentaneamente -, para tornar mais concreta a intencionalidade de cooperação e integração regional. MERCOSUL, ALADI, UNASUL e IBAS são blocos regionais que necessitam de mais ação para fortalecê-los, como a ligação energética estruturada entre os membros da Organização de Cooperação de Xangai. Hugo Cháves propôs a construção de uma pipeline que transpassaria o Brasil – fornecendo gás natural venezuelano – que visava os demais membros do subcontinente, mas entraves surgiram e, ao que parece, o projeto está engavetado momentaneamente, mas que pode ter possibilidades de desarquivamento. Ações com esse caráter estratégico precisam surgir nos próximos anos pelas suas próprias potencialidades de integração, claro, após serem devidamente acordadas buscando benefício mútuo e fortalecimento da região.
Grandes desafios estão no horizonte agravados por mais uma crise da atual gestão do capitalismo e, por vezes, essas alianças estratégicas parecerão onerosas e perniciosas para as economias em maior desenvolvimento, como o caso do Brasil na região, mas perguntas devem ser feitas antes de darmos ouvidos para o contra-ataque desmedido que nunca faz pensar, mas vociferar com base insinuações histéricas, como as grandes mídias brasileiras contra o Mercado Comum do Sul e o tal “bolivarianismo”. Uma boa pergunta seria: Para quem interessa que o Brasil rompa com o MERCOSUL, ALADI, UNASUL, IBAS e atribuir menor importância para os BRICS? Pelo que entendo, essas ações podem ser de interesse de muitos envolvidos, menos do Brasil. Basta pensar.
Notas:
[1] A entrada da Venezuela no Mercado Comum do Sul vem sendo tratada há algum tempo. Desde sua adesão foi assinada em 2006 e em vigor desde agosto de 2012. O Paraguai era o grande obstáculo a entrada do país no bloco. Contudo, com o “golpe soft” aplicado contra o governo eleito de Lugo, o país ficara com restrições dentro do bloco e perdera a força que vetava a entrada definitiva da Venezuela. Decidimos deixá-la no gráfico junto aos outros membros do MERCOSUL para termos ideia do fluxo comercial entra o país e o Brasil. O documento de adesão pode ser encontrado em http://mdic.gov.brsitio/interna/interna.php?area=5&menu=4124
[2] “Como não poderia deixar de ser, os resultados bastante positivos no campo econômico no Mercosul, e a colaboração com os outros núcleos de integração, num quadro de crescente competição econômico-tecnológica no Norte, tem levado a crescentes divergências com os EUA. mas não se trata apenas de constante ampliação das relações comerciais intra-Mercosul, mas também de outros elementos, como uma integração pela base. Além disso, parece ficar cada vez mais claro que o Mercosul tem como objetivo implícito a manutenção de uma base industrial dentro de seu território, criando condições para que as empresas transnacionais permaneçam aqui”.- VIZENTINI, Paulo G. Fagundes. O Brasil, o MERCOSUL e a integração da América do Sul. P. 97. In: [org] WIESEBRON, Marianne; GRIFFITHS, Richard T. Processo de integração regional e cooperação intercontinental desde 1989. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.
[3] Ibid.
[4] Ainda sim, a América Latina registra fluxo corrente comercial com o Brasil 21,9%- média e total corrente - a mais que o fluxo norte-americano no mesmo período.
[5] Cobertura refere-se à quantia total de exportações dividida pelas importações. Caso seja positivo (≥1), a balança também assim o é, e vice-versa.
[6] Dados da balança comercial brasileira com os países, continentes e blocos recolhidos no site do ministério do desenvolvimento. www.desenvolvimento.org.br