segunda-feira, 27 de julho de 2015

Violência na escola: um problema de todos

Fábio Liberato
A violência é nossa vizinha, / Não é só por culpa sua, / Nem é só por culpa minha. Sérgio Britto e Charles Gavin

Sou professor desde 2013, ou seja, a muito pouco tempo, No entanto, não só tenho acompanhado como percebido muitos casos de violência. Já passei por cinco escolas nesses últimos dois anos e foi vítima de um sem número de violências verbais e duas vezes fui atingido por objetos atirados por alunos, quer dizer, violência física. Apesar de não ter causado nenhum ferimento, é algo extremamente frustrante. O pior é que isso tem se tornado comum. Já passei por lugares onde a diretora da escola já foi agredida e pior, também já praticou atos de agressão contra alunos.

Desde então passei a monitorar com mais atenção os casos de violência que saíam em jornais impressos de Belo Horizonte e também em sites de notícias. Passei mais de um ano fazendo isso e foram dezessete casos envolvendo agressões de alunos contra professores, pais contra professores e até mesmo algumas de professores contra alunos. Alguns casos merecem maior destaque, como os seguintes:

Estes casos de violência são uma ínfima amostra do que os profissionais da educação estão expostos hoje no país. Além da agressão física é ainda mais comum a agressão verbal, que envolve na maioria das vezes palavrões ou mesmo situações de zombaria por causa dos baixos salários. A naturalização da violência está tão forte em nossa sociedade, que recentemente, decidi exibir o filme “O pianista” a um grupo de alunos do 9º ano, com idades entre 14 e 16 anos e para minha surpresa, muitos alunos riram de algumas das cenas de execução do filme e um aluno negro chegou a dizer que queria ser “igual aqueles caras” (os nazistas).

O desprestígio da carreira docente, causado pelos baixos salários é um dos motivos para o desrespeito à figura do professor. Este desprestígio vem desde o século XIX, quando a profissão se tornou majoritariamente feminina (CHAMON, 2005). Com raras exceções, a situação foi se deteriorando. Este processo se acelerou na década de 1960 por causa dos projetos do governo militar de expansão da educação sem o devido aumento dos investimentos (BITTAR & JÚNIOR, 2006).

No caso específico do professor de História, o problema se agrava devido a uma supervalorização do presente. Com isso, a disciplina se torna para muitos alunos, algo sem sentido, pois esses jovens se tornaram incapazes de perceber a influência do passado em suas vidas, e o pior: não conseguem perceber que são agentes históricos. Isso é causado pela indústria cultural, que tem o seu foco na valorização das conquistas materiais e competitividade, desprezando os valores éticos e humanistas. Nesta situação de eterno presenteísmo, a perda de referências leva a um processo de alienação (RODRIGUES, 2011).

Neste contexto de inversão de valores, pode se dizer que há o favorecimento ao aumento da violência já que o ambiente é de constante luta em ser sempre melhor que o seu semelhante, e quando isso não é conseguido vem a frustração. Em pesquisa sobre a violência no Distrito Federal, Pereira, Montenegro e Salviano citam declaração de integrante de ONG sobre as causas da violência na escola que reforça essa visão:
... a violência não é gerada pelas crianças ou adolescentes, eles só são reflexos de uma sociedade que se pauta na competitividade, onde cada um tem que superar o outro, ser melhor que o outro, e querem colocar a culpa nos adolescentes, devido serem o lado mais fraco de toda essa questão, temos que deixar de hipocrisia e ver que a raiz da violência não está em nossas crianças/adolescentes, e sim na forma de organização estrutural de nossa sociedade (2013, p. 44).
Neste contexto, muitas pessoas se tornam insensíveis, alienadas e em alguns casos, quando não conseguem obter esses bens, entram para a criminalidade, com o objetivo de conseguirem status e terem dinheiro o suficiente para serem consumidores.

A violência é uma constante em nossa sociedade. Como se não bastasse a violência a qual muitos alunos de periferia (mas não exclusivamente) estão expostos, seja em casa com agressões e abandono, seja na rua com brigas, atividades ilícitas ou mesmo assassinatos, além de serem diversos os programas que mostram tudo isso ao vivo. Recentemente a morte de um assaltante durante uma perseguição policial foi mostrada ao vivo no programa Cidade Alerta do dia 23 de junho por volta das 18h. Além disso, há filmes e jogos que podem ser baixados facilmente em smartphones cuja meta é matar.

A escola atualmente é violenta porque esta instituição é um reflexo da sociedade onde ela está inserida. Investimento em salários dos professores, infraestrutura das escolas e o desenvolvimento de projetos em parceria com as comunidades são sem dúvida importantes instrumentos para a melhoria desse ambiente. No entanto, uma solução mais consistente e duradoura só ocorrerá se houver uma desnaturalização das desigualdades hoje existentes.

Referências
BITTAR, Marisa e JÚNIOR, Amarildo Ferreira. A ditadura militar e a proletarização dos professores. In: Educação & Sociedade. Vol. 27, n. 97, p. 1159-1179. Campinas: UNICAMP, 2006.
CAETANO, Carolina. Professora é demitida por agredir autista de 5 anos. O Tempo, 12 jun. 2004. Cidades, p. 26.
CHAMON. Magda. Trajetória de feminização do magistério: ambigüidades e conflitos. Belo Horizonte: Autêntica/FCH-FUMEC, 2005.
MUZZI, Luiza. Professora alega que foi agredida por estudantes. O Tempo, 30 mai. 2014. Cidades, p. 29.
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. 5ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.
PEREIRA, Marcelo Ricardo. Mal estar docente. In: Revista Presença Pedagógica. v. 20. n. 117. Mai/Jun. 2014. p. 62-68.
PEREIRA, Rosemary; MONTENEGRO, Maria Eleusa; SALVIANO, Ana Regina Melo. Diagnóstico sobre a sociedade e a violência na escola. In: Universitas Humanas, Brasília, v. 10, n. 1, p. 41-49, jan./jun. 2013.
RODRIGUES, André Wagner. História, Historiografia e Ensino de História em relação dialógica com a Teoria da Complexidade. São Paulo: Clube de Autores, 2011.

*texto enviado pelo leitor.

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