Este blog foi criado para guardar os textos publicados pelo O Fato e a História, no blog hospedado no WIX, pelo link ofatoeahistoria.com, atualmente inativo, pelo período de 19/01/2015 até a última postagem de 07/09/2015.
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Michel Foucault foi um filósofo francês que dedicou sua obra entender a relação entre poder e conhecimento e de que modo eles são usados como uma forma de controle social por meio de instituições sociais. Estudou a história da loucura e da sexualidade e cunhou conceitos como o de biopoder. Sua aobra é influênte e vasta. Temos nesta estante boa parte de sua bibliografia em portugues.
Caso o leitor tenha uma obra faltante envie para nosso e-mail: ofatoeahistoria gmail.com
Eric Hobsbawm foi um historiador inglês responsável por vasta obra a respeito da formação do capitalismo, do nascimento da classe operária, das culturas do mundo contemporâneo, bem como das perspectivas para o pensamento de esquerda no século XXI. Hobsbawm, com uma obra dotada de rigor, criatividade e profundo conhecimento empírico dos temas que tratava, formou gerações de intelectuais.
Ajude a incrementar a estante da biblioteca. Mande livros faltantes, versões de tamanho menor, do Hobsbawm ou de outros autores para ofatoeahistoria@gmail.com
Sou professor desde 2013, ou seja, a muito pouco tempo, No entanto, não só tenho acompanhado como percebido muitos casos de violência. Já passei por cinco escolas nesses últimos dois anos e foi vítima de um sem número de violências verbais e duas vezes fui atingido por objetos atirados por alunos, quer dizer, violência física. Apesar de não ter causado nenhum ferimento, é algo extremamente frustrante. O pior é que isso tem se tornado comum. Já passei por lugares onde a diretora da escola já foi agredida e pior, também já praticou atos de agressão contra alunos.
Desde então passei a monitorar com mais atenção os casos de violência que saíam em jornais impressos de Belo Horizonte e também em sites de notícias. Passei mais de um ano fazendo isso e foram dezessete casos envolvendo agressões de alunos contra professores, pais contra professores e até mesmo algumas de professores contra alunos. Alguns casos merecem maior destaque, como os seguintes:
Professora de Governador Valadares é demitida por agredir estudante autista de 5 anos.
Professora agredida por três alunos no Instituto de Educação de Minas Gerais, uma das mais tradicionais instituições de ensino do Estado.
Estes casos de violência são uma ínfima amostra do que os profissionais da educação estão expostos hoje no país. Além da agressão física é ainda mais comum a agressão verbal, que envolve na maioria das vezes palavrões ou mesmo situações de zombaria por causa dos baixos salários. A naturalização da violência está tão forte em nossa sociedade, que recentemente, decidi exibir o filme “O pianista” a um grupo de alunos do 9º ano, com idades entre 14 e 16 anos e para minha surpresa, muitos alunos riram de algumas das cenas de execução do filme e um aluno negro chegou a dizer que queria ser “igual aqueles caras” (os nazistas).
O desprestígio da carreira docente, causado pelos baixos salários é um dos motivos para o desrespeito à figura do professor. Este desprestígio vem desde o século XIX, quando a profissão se tornou majoritariamente feminina (CHAMON, 2005). Com raras exceções, a situação foi se deteriorando. Este processo se acelerou na década de 1960 por causa dos projetos do governo militar de expansão da educação sem o devido aumento dos investimentos (BITTAR & JÚNIOR, 2006).
No caso específico do professor de História, o problema se agrava devido a uma supervalorização do presente. Com isso, a disciplina se torna para muitos alunos, algo sem sentido, pois esses jovens se tornaram incapazes de perceber a influência do passado em suas vidas, e o pior: não conseguem perceber que são agentes históricos. Isso é causado pela indústria cultural, que tem o seu foco na valorização das conquistas materiais e competitividade, desprezando os valores éticos e humanistas. Nesta situação de eterno presenteísmo, a perda de referências leva a um processo de alienação (RODRIGUES, 2011).
Neste contexto de inversão de valores, pode se dizer que há o favorecimento ao aumento da violência já que o ambiente é de constante luta em ser sempre melhor que o seu semelhante, e quando isso não é conseguido vem a frustração. Em pesquisa sobre a violência no Distrito Federal, Pereira, Montenegro e Salviano citam declaração de integrante de ONG sobre as causas da violência na escola que reforça essa visão:
... a violência não é gerada pelas crianças ou adolescentes, eles só são reflexos de uma sociedade que se pauta na competitividade, onde cada um tem que superar o outro, ser melhor que o outro, e querem colocar a culpa nos adolescentes, devido serem o lado mais fraco de toda essa questão, temos que deixar de hipocrisia e ver que a raiz da violência não está em nossas crianças/adolescentes, e sim na forma de organização estrutural de nossa sociedade (2013, p. 44).
Neste contexto, muitas pessoas se tornam insensíveis, alienadas e em alguns casos, quando não conseguem obter esses bens, entram para a criminalidade, com o objetivo de conseguirem status e terem dinheiro o suficiente para serem consumidores.
A violência é uma constante em nossa sociedade. Como se não bastasse a violência a qual muitos alunos de periferia (mas não exclusivamente) estão expostos, seja em casa com agressões e abandono, seja na rua com brigas, atividades ilícitas ou mesmo assassinatos, além de serem diversos os programas que mostram tudo isso ao vivo. Recentemente a morte de um assaltante durante uma perseguição policial foi mostrada ao vivo no programa Cidade Alerta do dia 23 de junho por volta das 18h. Além disso, há filmes e jogos que podem ser baixados facilmente em smartphones cuja meta é matar.
A escola atualmente é violenta porque esta instituição é um reflexo da sociedade onde ela está inserida. Investimento em salários dos professores, infraestrutura das escolas e o desenvolvimento de projetos em parceria com as comunidades são sem dúvida importantes instrumentos para a melhoria desse ambiente. No entanto, uma solução mais consistente e duradoura só ocorrerá se houver uma desnaturalização das desigualdades hoje existentes.
Referências
BITTAR, Marisa e JÚNIOR, Amarildo Ferreira. A ditadura militar e a proletarização dos professores. In: Educação & Sociedade. Vol. 27, n. 97, p. 1159-1179. Campinas: UNICAMP, 2006.
CAETANO, Carolina. Professora é demitida por agredir autista de 5 anos. O Tempo, 12 jun. 2004. Cidades, p. 26.
CHAMON. Magda. Trajetória de feminização do magistério: ambigüidades e conflitos. Belo Horizonte: Autêntica/FCH-FUMEC, 2005.
MUZZI, Luiza. Professora alega que foi agredida por estudantes. O Tempo, 30 mai. 2014. Cidades, p. 29.
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. 5ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.
PEREIRA, Marcelo Ricardo. Mal estar docente. In: Revista Presença Pedagógica. v. 20. n. 117. Mai/Jun. 2014. p. 62-68.
PEREIRA, Rosemary; MONTENEGRO, Maria Eleusa; SALVIANO, Ana Regina Melo. Diagnóstico sobre a sociedade e a violência na escola. In: Universitas Humanas, Brasília, v. 10, n. 1, p. 41-49, jan./jun. 2013.
RODRIGUES, André Wagner. História, Historiografia e Ensino de História em relação dialógica com a Teoria da Complexidade. São Paulo: Clube de Autores, 2011.
Mircea Eliade foi um historiador das religiões, filósofo e mitólogo nascido na Romênia (1907-86). Considerado um dos fundadores modernos da história das religiões, elaborou conceitos como de hierofania, a dialética do sagrado e do profano, o terror da história, a coincidentia oppositorum, o simbolismo do centro e simbólico casamento celeste.
Nesta estante da nossa biblioteca temos algumas das suas principais obras. Caso tenha alguma das obras faltantes, envie para nós (ofatoeahistoria@gmail.com).
Veja a segunda entrevista do projeto de Cultura Religiosa da Escola Municipal Dolores Alcaraz Caldas de Porto Alegre/RS. O primeiro entrevistado foi com o Pai de Santo Antônio Olívio Rodrigues. Nesta segunda entrevista é a vez do pastor evangélico Jader Riegel Bitencourt, da Igreja Viva de Porto Alegre (RS), responder as perguntas elaboradas pelos alunos e alunas.
A proposta do projeto é conhecer as mais diversas formas de manifestação religiosa, sobretudo os grupos e comunidades existentes no bairro Restinga. O grupo que realiza o projeto compõe-se de alunos e alunas da escola coordenados pelo professor de filosofia Elenilton Neukamp. Toda a produção é coletiva. Esta entrevista está dividida em duas partes, acompanhe as duas aqui n'O Fato e a História.
O Fato e a História publica esta reflexão sobre três documentários com abordagem crítica ao neoliberalismo como paradigma de viabilidade financeira e aos seus parâmetros de avaliação da crise grega. São eles “Catastroika” de 2012, “Dividocracia/Debtocracy” de 2011 e “Poder em Roda Livre” de 2015. Ao fim do texto, disponibilizamos os vídeos para apreciação do leitor. Boa leitura!
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Catastroika dá o tom geral pretendido por minha crítica: faz um relato devastador sobre o impacto da privatização massiva de bens públicos e sobre toda a ideologia neoliberal que está por trás disso. Catastroika denuncia exemplos na Rússia, Chile, Inglaterra, França, Estados Unidos e na Grécia, afetando setores como transportes, água e energia. Foi produzido através de contribuições do público, contando com o testemunho de Slavoj Žižek, Naomi Klein, Luis Sepúlveda, Ken Loach, Dean Baker e Aditya Chakrabortyy.
De forma deliberada e com uma motivação ideológica clara, os governos desses países estrangulam ou estrangularam os serviços públicos fundamentais, elegendo os funcionários públicos como bodes expiatórios, para apresentarem, em seguida, a privatização como solução óbvia e inevitável. Sacrifica-se a qualidade, a segurança e a sustentabilidade, provocando, invariavelmente, uma deterioração generalizada da qualidade de vida dos cidadãos. As consequências mais devastadoras registram-se nos países obrigados, por credores e instituições internacionais (como a Troika), a proceder a privatizações massivas, como contrapartida dos planos de «resgate».
Catastroika evidencia, por exemplo, que o endividamento consiste numa estratégia para suspender a democracia e implementar medidas que nunca nenhum regime democrático ousou sequer propor antes de serem testadas nas ditaduras do Chile e da Turquia. O objetivo é a transferência para as mãos de poucos da riqueza gerada pela maioria dos cidadãos. Nada disto seria possível, num país democrático, sem a implementação de medidas de austeridade, que deixam a economia refém dos mecanismos de especulação e chantagem — o que implica, como na Grécia, o total aniquilamento das estruturas de sustentabilidade, coesão social e níveis de vida condignos.
O documentário “Poder em Roda Livre”, de jornalismo econômico de Árpád Bondy e Harald Schumann, com a História da Troika e das políticas de austeridade neoliberais, desde 2010 até 2015, em Portugal, Grécia, Irlanda e Chipre. A versão aqui disponibilizada está com narração em inglês, mas com legenda em português de Victor Pinto.
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É fundamental desnaturalizarmos as categorias de percepção e avaliação neoliberais sobre este assunto; sobre o que é economicamente viável ou equilibrado financeiramente, como se sua visão de mundo não fosse relativizável ou “não-ideológica”. Isso é bem sintoma de arrogância civilizacional e miopia histórica: O paradigma que se torna hegemônico não se vê como localizável num conjunto, mas como todo o conjunto, como o “fato”, a “verdade”. Aos perdedores, as favas (i.e., a “ideologia”, a “irrelevância crítica”). Este tipo de atitude imbecilista anti-intelectual já foi abordado antes, não vou me repetir aqui.
O fundamental é manter o horizonte aberto sobre o assunto, combater um tipo de visão rasa e presentista que não relativiza as suas categorias de percepção e avaliação de mundo, que não se enxerga como violenta e cruel, mas apenas como “a regra”. Ando de saco cheio dos técnicos econômicos imbecilistas que ficam dividindo o assunto entre “donos dos fatos” e “ideólogos desinformados”, como se os seus “fatos” fossem dados e não feitos e disputados em sentido por relações de poder; como se sentidos e valores não fossem “eventos” que criam percepções sobre o que é “fato” nesse tipo de assunto tão disputado, que coloca em choque, no interior do capitalismo, dois fundamentos centrais desde a segunda metade do século XIX: “o direito à propriedade”(via liberal) e o “direito à sobrevivência”(via socialdemocrata).
Atualmente, o jogo financeiro especulativo mundial e seus acólitos se pensam como “fatos”, como a ordem natural das coisas, como deus fora da máquina. Estão convencidos disso. Por isso, não veem crueldade no que fazem ou propõem, simplesmente protegem o tipo de civilização que consideram a única possível, embora haja os cínicos entre eles que simplesmente gostam de parasitar o jogo da melhor forma possível. Contudo, todos vão colocar a dívida pública não na conta do jogo financeiro especulativo sustentado pelo Estado, mas nos “gastos sociais excessivos”.
O Estado do capitalismo financeiro flexível usa os impostos para manter o jogo especulativo falsamente sustentável com taxas de juros favoráveis ao grande especulador. É este mesmo Estado que lança títulos de dívidas públicas com retornos bem atraentes (por vezes, 100%) para os investidores mais ricos, mas “sustenta” tal jogo com impostos, com títulos menores de renda fixa e com a poupança da maioria de seus cidadãos. Enfim, é este mesmo estado que faz licitações bem amigáveis, acessíveis apenas aos grandes empresários.
Todo o sistema financeiro-especulativo assim naturalizado pelos economistas tecnicistas funciona em desfavor da maioria que não tem acesso às tais oportunidades de investimentos sustentados pelo Estado. É um jogo para poucos e, portanto, concentrador. Então, é como se a maioria, na Grécia, estivesse agora sendo punida em nome de uma receita de austeridade bem conhecida na América Latina desde a década de 1990, e que mantém o jogo especulativo e concentra renda em desfavor da maioria que não participa do jogo como lobo, mas apenas como ovelha tosquiada com acesso limitadíssimo ao pasto.
Ora, se continua havendo alta concentração de renda no mundo em poucas corporações mundiais, se o pacote da privatização está sempre no horizonte, se a qualidade geral da vida não melhora com a “austeridade”, mas apenas a concentração de renda, alguém anda mentindo muito mal, ou supondo-nos idiotas.